Pode não ser uma ideia agradável, pelo menos para a maioria das pessoas e pelo menos da boca para fora, mas é um fato que "roubar" o parceiro de alguém é uma das várias estratégias possíveis para iniciar um relacionamento amoroso.
Inclusive é uma estratégia mais frequente do que muitos imaginam. Uma pesquisa mundial publicada em 2004 revelou que a América do Sul é a região campeã nessa prática: 70% dos homens e 38% das mulheres entrevistadas aqui admitiram já ter tentado roubar o parceiro de alguém. A região com os menores índices é o leste asiático, Japão, Coreia, China, com 29% e 14%, números ainda significativos (note que a proporção de pessoas que dizem ter feito uma tentativa não é necessariamente a mesma de pessoas que realmente fizeram ou que, tendo feito, foram bem-sucedidas. E que a proporção de pessoas que admitem esse comportamento pode variar de acordo com a cultura).
Mas até recentemente não havia pesquisas que mostrassem como são os relacionamentos que começam assim, se há alguma diferença de qualidade entre eles e os que começam com duas pessoas livres, soltas e descomprometidas.
A intuição, o senso-comum, diz para ficarmos com um pé atrás: se ele ou ela abandonou o parceiro para ficar comigo, será que também não vai me abandonar para ficar com outra pessoa depois? Será que não é alguém que valoriza pouco a relação, que se preocupa pouco com os sentimentos do parceiro?
Uma equipe de psicólogos americanos investigou essa questão numa série de pesquisas, e publicou seus resultados no final do ano passado. Para obter os dados, eles entrevistaram homens e mulheres heterossexuais que estavam num relacionamento de até três anos. Na primeira pesquisa, foram 96 participantes; na segunda, 140; e na terceira, 219.
Os participantes foram divididos em dois grupos: aqueles que iniciaram seu relacionamento atual tendo sido "roubados" de outra pessoa (cerca 13% do total), e aqueles que iniciaram o relacionamento atual estando solteiros. E os resultados foram bastante interessantes. Consistentemente ao longo das três pesquisas o grupo de homens e mulheres que abandonaram um relacionamento para iniciar outro declarava que:
- Praticava mais infidelidade emocional ou mesmo física durante a relação atual.
- Prestava mais atenção e avaliava de maneira mais positiva outros parceiros potenciais.
- Estava menos comprometido, menos satisfeito e investindo menos na relação atual. O quanto uma pessoa se declara comprometida é a resposta mais importante para avaliar a qualidade do relacionamento e para prever problemas nele.
De acordo com estas pesquisas, na média há uma clara diferença de qualidade nos relacionamentos dependendo de como eles foram iniciados. Os que começaram com o "roubo" do parceiro tendem a ter mais problemas.
Além disso, os pesquisadores investigaram também as características de personalidade dos participantes, e observaram que o fato de uma pessoa se deixar convencer a abandonar um relacionamento para iniciar outro está associado a maiores traços de narcisismo, menor escrupulosidade e amabilidade.
Ou seja... aquela intuição, aquele pé-atrás, tem razão de ser.
E é algo que faz bastante sentido, se você parar pra pensar. Vamos usar um pouco de lógica. No grupo que entrou solteiro para o atual relacionamento, podem existir pessoas de todo tipo: desde as que tendem a ser altamente comprometidas e dificilmente se deixariam convencer a trocar de parceiro, até as que são muito pouco comprometidas e poderiam facilmente se deixar convencer. Já no grupo que entrou no relacionamento atual abandonando outro, é menos provável que existam pessoas que tendam a ser altamente comprometidas, e mais provável que existam pessoas que possam facilmente se deixar convencer. Como sabemos que o comprometimento é um indicador da qualidade da relação, podemos deduzir daí que a qualidade da relação no segundo grupo tende a ser pior.
Mas notem que este tipo de pesquisa revela resultados estatísticos, tendências populacionais. Certamente há pessoas que trocam de parceiros por motivos muito bons, talvez o anterior fosse uma pessoa horrível, ou então encontraram o amor da sua vida quando já estavam comprometidas. Mas se você estiver procurando um critério de desempate pra tomar uma decisão, bem, está aí a contribuição da ciência.
Finalmente, os autores desse trabalho deixam uma pergunta no ar para pesquisas futuras: e o lado de quem atraiu o parceiro, tomou a iniciativa de tirá-lo do seu relacionamento anterior? Como essa pessoa se sente na relação, e quais tendem a ser as suas características de personalidade?
REFERÊNCIA: What do you get when you make somebody else’s partner your own? An analysis of relationships formed via mate poaching.
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